sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Interferindo na natureza – parte 2

A partir do momento que reconhecemos o homem como integrante da natureza e passamos a buscar relações positivas com TODOS descobrimos que essa tarefa é muito complicada. Acredito que nossas maiores dificuldades estão atreladas a dois pontos:
1- Egoísmo
2- Linguagem

Muitas vezes quando apresentamos os direitos animais (o direito do ser vivo existir para o seu próprio fim seja ele qual for), as pessoas retrucam com argumentos muito frageis.

Exemplo:
(Veganos dizem) “Não importa o quanto você trate “sua” vaca bem (vivendo num imenso pasto, com companhia da mesma espécie, e com comida e água a vontade) você não tem o direito de matá-la de nenhum jeito (mesmo pelo método menos doloroso) para nenhum fim (nada é mais importante do que a própria vida e liberdade de um ser vivo)”.
(Onívoros respondem) “Mas como você pode ter certeza que aquela vaca não quer morrer? Como você sabe que ela dá tanto pra valor pra própria vida como você ESTÁ DIZENDO? (ou pior) “Ela TE CONTOU que não gosta do jeito que eu trato ela?”.


Primeiramente precisamos entender que “direito” não significa “desejo”. Exemplos:
-Estar matriculada numa faculdade me dá o direito de freqüentar as aulas. Se por acaso eu não quiser ir a aula e faltar, isso não acabara com meu direito de freqüentá-la.
-Os idosos tem o direito do transporte publico gratuito. Se por acaso um senhor desejar pagar a tarifa do ônibus, ou até não usá-lo, isso não lhe tirará o direito de utilizá-lo gratuitamente.
Perceba que quem decide usufruir de seu direito ou não sempre será quem o possue. Então somente a vaca, dona da própria existência, PODERIA optar pela morte.

Nesse momento, alguns poderiam retrucar levantando a seguinte questão: “o estudante e o idoso tem esses direitos porque são seres humanos”.

Para explicar o porque os animais possuem o mesmo direito de viver para o seu próprio fim que os seres humanos tem, precisamos primeiro entender porque a humanidade tem esse direito. Assim como Regan apresenta, os seres humanos tem direitos porque somos SUJEITOS-DE-UMA-VIDA.

“Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque estamos todos no mundo.
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque somos todos conscientes do mundo.
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque o que acontece conosco é importante para nós.
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos iguais porque o que acontece conosco (com nossos corpos, nossa liberdade ou nossas vidas) é importante para nós quer os outros se preocupem com isso, quer não.
Como sujeitos-de-uma-vida, não há superior nem inferior, não há melhores nem piores.
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos moralmente idênticos.
Como sujeitos-de-uma-vida, somos todos moralmente iguais.”¹

Essas qualidades também enquadram os outros animais. Ambos são sujeitos-de-uma-vida. Ambos têm direitos.



Além disso, a pessoa se baseou no fato do ser humano não ter a mesma linguagem dos outros seres vivos, o que é verdade. Mas ela esqueceu que isso não exclui uma possível comunicação entre o animal-humano e os outros animais. Todos os animais sabem expressar dor.




Quando divulgamos vídeos que mostram o abate da vaca não queremos aterrorizar ninguém. Queremos que as pessoas tomem conhecimento de como é para o animal em questão estar na fila da morte. É visível o pânico que eles passam quando são isolados de sua família, trancados em ambientes inadequados, impossibilitados de movimentos, alimentados, drogados, e marcados a força. E quando uma vaca avista o abate de outra ela se desespera. Não tem como olhar para os olhos e ações dela naquele momento e dizer “não, ela não está tentando fugir da morte”.



“Olhe no fundo dos olhos de um animal e, por um momento, troque de lugar com ele. A vida dele se tornará tão preciosa quanto a sua e você se tornará tão vulnerável quanto ele.” (Phipli Ochoa)

Tudo o que vemos são sinais claros que os animais desejam viver, são nítidas demonstrações de medo da dor e sofrimento. Os animais- não humanos também sabem se expressar. E se nós prestarmos atenção nessas coisas, com certeza estaremos começando a estabelecer uma comunicação com eles.

Essas “expressões não verbais” se estendem ao mundo todo. Não é a toa que uma das máximas da permacultura é “Um bom permacultor é um bom observador”. Quando uma planta esta seca, sabemos que ela precisa de água. Quando uma terra não tem microorganismos sabemos que ela precisa de nutrientes. Sempre estamos rodeados de sinais que podem nos ajudar a tomar boas ações e criar uma boa relação com o meio. Acontece que muitas vezes o sujeito não utiliza todo o conhecimento que tem. É essencial nos lembrarmos de  observar e sentir o que todo o restante da natureza esta nos transmitindo. E isso não é nada piegas. Isso é uma grande sabedoria.





¹ REGAN, Tom. Jaulas vazias: encarando o desafio dos direitos animais. Lugano. 266p.

7 comentários:

  1. Bem, tentando mais uma vez. Gostei do seu blog. A despeito da minha simpatia natural por você, justiça seja feita, escreves muito bem. Acho importante pensarmos a permacultura de modo filosófico também e não apenas nos atermos às boas práticas. De fato concordo com vc em alguns pontos, mas também discordo em outros. Por exemplo, concordo que o tratamento dado aos animais pela indústria do abate é no melhor dos casos horrendo, concordo com você que existe uma coisificação com o que diz respeito aos animais, que há uma incongruência clara em nossa sociedade que por um lado estimula a criação de animais de estimação, reconhece publica e talvez cientificamente um lado inteligente e sensível nesses animais, mas essa mesma sociedade abate mecanicamente e em escalas industriais animais a todo instante para alimentar sua fome por carne. Mas acho também que pelo ponto de vista do sujeito de uma vida, por assim dizer, isso se aplicaria também as plantas e ponto é: por que seria justo "abater" um vegetal e não o seria quando falamos de animal? Meu ponto é: aonde está a vida? Aonde está o sujeito de uma vida? Seria então na matéria que encerraríamos a vida? Ou seja, a vida está apenas naquilo que os sentidos podem perceber ou há algo além disso? Sei que esta linha de raciocínio pode levar a uma efemeridade ou uma inconsistencia no discurso porque o pensamento que usamos é o cartesiano, reto e lógico, mas mesmo assim, dentro deste pensamento peço que me responda a esta pergunta: aonde está a diferença de uma vida animal e de uma vida vegetal?

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    1. Penso basicamente a partir da PIRÂMIDE ALIMENTAR e das características físicas que determinam que um ser é gegetariano ou carnívoro. Desculpe, William, se estou sendo simplista. Abç.

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  2. A diferença está na senciência. Os vegetais são desprovidos de um sistema nervoso, ao passo que nós - animais - somos capazes de experienciar felicidade e tristeza, prazer e dor...
    Mais, nós precisamos de vegetais para a nossa sobrevivência mas não precisamos de animais (na nossa alimentação).

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  3. As características citadas acima que fazem de nós, animais humanos, e dos outros animais sujeitos de uma vida não estão presentes nas plantas.
    Cientificamente, esse argumento é sustentado porque as plantas não têm SNC (sistema nervoso central), e dessa forma não são capazes de vivenciar dor e prazer (como o Jorge colocou).

    Agradeço a participação de vocês.
    E William, fique a vontade para me dizer se ainda não ve sentido nisso.

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  4. Patati, muito bem! A vida é tão bonita que nos fez viver lado a lado... hora para uma servir à outra de exemplo de respeito animal e ora para a outra servir à uma de referência da essência interior, da vida que existe em nós e por todos os lados.
    Lembrei da massagem que fiz em um gorila e o quanto ele expressou sua gratidão, por que não seria eu grata à ele de volta não é? Faz parte do relacionamento com Gaia o respeito à vida.

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  5. Cara Raquel
    Apreciei muito teu Blog. Muito instrutivo e reflexivo. Veio totalmente ao encontro do meu projeto de Vida!
    Abjçs!!!

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  6. Ola!! Tudo bem? Muito massa seu blog! Estamos reunindo as pessoas interessadas nesse tema num grupo de whats, gostaria de participar? Esta muito incrivel a troca de conhecimento, seria otimo sua presença. Segue o link http://tiny.cc/permaculturavegana *-*

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