quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Interferindo na natureza – parte I


Gostaria de retornar àquela história sobre o uso da galinha em sistemas permaculturais para tratar de um tema maior (e de extrema relevância para veganos e para permacultores): a interferência na natureza.

A maioria das pessoas tem o hábito de nomear toda a flora e fauna (exceção aos animais humanos) de natureza sem questionar a razão dessa curiosa distinção. A repetição não pensada dessa palavra acelera negativamente o processo de distinção entre homem-animais e homem-plantas. Em outras palavras, excluir o homem da adorada natureza permite colocá-lo num patamar diferenciado, onde os direitos e deveres são especiais. Essa classificação sustenta o especismo e todas as atividades agressivas que a sociedade pratica no planeta.
Não estou pregando que o ser humano é igual a uma nascente. Muito menos o oposto. Apenas quero lembrar que todos compartilhamos um único planeta, que todos fazemos parte do mesmo saco de areia. O homem também é natureza. Podemos tentar ser diferentes, negando a beleza que a “genética” nos deu, dominando o espaço dos outros, e até exterminando todo o resto. Teremos êxito na destruição dos ecossistemas, mas jamais alcançaremos a superioridade. Destruir a natureza é acabar com nossos vizinhos, com nossas casas, e com nós mesmos.

Quando compreendemos essas questões e procuramos habitar esse planeta de uma forma justa e respeitosa, encontramos nossa maior dificuldade: o relacionamento. O ser humano ainda não aprendeu a ter uma interação positiva com o restante da natureza.  Na verdade, ainda não conseguimos conviver entre nós mesmos com o devido respeito. Isso não é nenhuma novidade para ninguém. Em toda a história, os piores males para todas as sociedades foram as próprias sociedades.

Ao aprendermos sobre a permacultura, somos levados a uma séria reflexão sobre o tema. Os permacultores sugerem diversas soluções para evitar e solucionar conflitos. Eles propõem outras formas de interação entre humanos (muitas vezes são costumes antigos e perdidos). Sempre vivenciamos alguns desses costumes durante os cursos (seja nas atípicas perguntas que ouvimos quando desejam saber quem somos, ou no simples e milenar gesto de dar a mão). Ainda assim, entre tanto ensinamento e dedicação, as principais pragas que destroem as comunidades de permacultura são os conflitos interpessoais.
Esse resultado é muito perturbador para todos aqueles que confiaram nas ecovilas como o futuro da humanidade. Mas a boa notícia é que a permacultura está aberta a novas respostas para solucionar os conflitos. Por essência, ela quer encontrar o caminho que leve a uma interação positiva entre toda a natureza.

sábado, 8 de outubro de 2011

Veganismo e os direitos da Terra

O Veganismo é ecológico por natureza, pois “quem não come carne bovina, não compactua com a destruição de florestas para abertura de pastos. Quem não come peixe, ajuda a proteger a vida nos mares e mangues. Quem não come aves e suínos colabora para manter limpos os lençóis freáticos”. Além disso, a “dieta vegetariana vem de mãos dadas com a não-violência, a rejeição do especismo, o reconhecimento dos Direitos da Terra e um pensamento onde o “penso, logo existo” não dá direito a tratar todos os demais seres viventes como “coisas””¹. Mas infelizmente, não existe um ser humano completamente vegano. A nossa sociedade ainda está muito contaminada por uma cultura especista. Ainda não é tão simples nos abstermos totalmente de todos os produtos que tenham constituintes de origem animal. Não falarei sobre a fabricação do computador por onde escrevo. Mas gostaria de deixar algumas palavras do filósofo Tom Regan que demonstram bem a complexidade do assunto:
“Veja o algodão, por exemplo. Não se trata de um direito sem implicações morais para os animais. O algodão tem uma das safras produzidas com o uso mais intenso de produtos químicos do mundo. Herbicidas. Nematocidas. Fungicidas. Tudo quanto é tipo de cidas (cida traduz a idéia de exterminador, assassino) é aplicado ao algodão. Quando vem as chuvas (e elas vem mesmo), os cidas são levados na água para os rios e córregos vizinhos, matando peixes e outros animais. Antes, porém, muitos animais que vivem na terra são mortos quando lavradores mecanizados preparam o solo para o plantio. O resultado? Toda vez que compramos alguma coisa feita de algodão, estamos levando, para casa, roupas manchadas com sangue de animais.
Quanto aos sapatos e cintos feitos de couro falso: são subprodutos da indústria petroquímica. Isso significa derramamento de óleo, o que por sua vez significa números incontáveis de animais feridos e mortos. Toda vez que calçamos um par de sapatos de couro falso, nós temos o sangue de animais em nossos pés”.²
Essa informação é sempre boa para colocar alguns veganos com síndrome de superioridade em seu devido lugar: no nível da igualdade. Considerações a parte, vou voltar ao que me interessa.

Minha grande preocupação é a propaganda que se faz em relação ao caráter ecológico do veganismo, sem o cuidado de conferir se estão mesmo reconhecendo todos os direitos da terra. Esse reconhecimento está longe de se limitar à alimentação. E mesmo se fossemos analisar somente esse tópico, perceberíamos que o consumo de industrializados ainda persiste, enquanto o de orgânicos nem sempre é uma prioridade. As monoculturas estão longe de serem ambientes pacíficos, e cheios de respeito a terra. Os impactos que causam ultrapassam a destruição dos seres existentes na terra, e do próprio solo. Elas interferem negativamente na vida de muitas pessoas, tanto na vida dos seus funcionários que convivem com veneno (agrotóxico), ou na vida de todos os pequenos agricultores que perdem seus empregos, quanto na vida de todos os brasileiros que consomem todos os dias vegetais temperados de veneno. A lista de horrores ligados ao não-consumo de orgânicos não para por aí. Mas a deixarei para outro momento, quando também explicarei todas as outras práticas agressivas ao mundo em que vivemos. Mas Imagino que aquele que compreende a ética vegana, aquele que preza pelo respeito e cuidado de todos os seres vivos na terra, há de concordar que precisamos estudar um pouco mais o que realmente fazemos com o planeta. E não só isso: é necessário buscar outras formas de relação com a terra.





















¹ RIBEIRO, Raquel. Um copo vazio. Disponível em: <
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=29528> Acesso em: 30/09/2011

² REGAN, Tom. Jaulas vazias: encarando o desafio dos direitos animais. Lugano. 266p.

Vídeos recomendados:

O veneno está na mesa
http://www.youtube.com/watch?v=WYUn7Q5cpJ8

Uma vida interligada
http://www.youtube.com/watch?v=eSWh9RLWpcg

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Veganismo - Origem e Razões

Origem
A origem do vegetarianismo não é simples de relatar. Há quem diga que desde que existe o homem, existe o vegetariano. Outros dizem que surgiu na Índia. E outros, que surgiu na Idade Antiga. A única informação que não encontrei contestação é sobre Pitágoras. O famoso matemático adotava uma alimentação sem carne. E devido a isso, por quase 2500 anos, aqueles que seguiam o vegetarianismo eram chamados de Pitagóricos. As razões dele eram resumidas numa tríade: veneração religiosa, saúde física  e responsabilidade ecológica. Dessa forma, podemos concluir duas coisas. Primeiro, a dieta vegetariana é antiga. Segundo, a responsabilidade ecológica também.
O termo Vegetariano foi oficialmente inaugurado pelo inglês Joseph Brotherton, durante a reunião de criação da Sociedade Vegetariana, em 1847. Durante algumas décadas, a dieta vegetariana (que incluía leite e ovos) era pouco questionada. Mas esse cenário mudou com o processo de criação da Vegan Society, em Londres.
“A Vegan Society, a primeira do mundo, nasceu em Novembro 1944 - após uma longa gestação. 
Desde 1909 debateu-se fervorosamente a ética do consumo de laticínios, dentro do movimento vegetariano.
Em Agosto de 1944, Elsie Shirgley e Donald Watson (um objetor de consciência que mais tarde seria aclamado Fundador da Vegan Society) concordaram sobre o desejo de coordenar "vegetarianos não-lácteos"; apesar da forte oposição de vegetarianos proeminentes que nem ao menos queriam considerar a possibilidade de adotar uma dieta livre de qualquer produto de origem animal.
Em Novembro, Donald organizou uma reunião em Londres de seis "vegetarianos não-lácteos" que pensavam de maneira parecida, aonde foi decidido a criação de uma nova sociedade e a adoção de um nome que os descrevessem - vegan derivado de VEGetariAN. Era um domingo, ensolarado, de céu azul, um dia auspicioso para a criação de um novo movimento idealista.”¹

"Está bem, mas porque as pessoas se tornam vegetarianas? E porque alguns outros não consomem nada de origem animal?"

As razões para adotar uma dieta vegana podem ser resumidas nos seguintes pontos:
1- Religião*
2- Saúde
3- Compaixão
4- Meio ambiente
5- Ética
Essa classificação não exclui a possibilidade dos veganos concordarem com mais de um dos motivos. Na verdade isso é muito freqüente, uma vez que todos os tópicos se conectam.
A explicação sobre qualquer um dos números exige tempo e dedicação. Eu teria um enorme prazer em compartilhá-la com as minhas próprias palavras, mas esse não é o objetivo do blog. Por isso decidi apenas dizer o básico sobre o 1,2 e 3, e recomendar textos de quem já explorou o assunto muito bem.
E quanto à questão ambiental e ética, posso garantir que serão sempre abordadas de alguma forma em meus textos.

*Não há posição religiosa sobre o veganismo. Apenas sobre a dieta vegetariana.

Religião
Em primeiro lugar, eu quero deixar claro uma coisa: não existe nenhuma religião que exija o consumo de carnes.
Muita gente contesta isso, afirmando que o sacrifício de animais era obrigatório nos rituais, ou vasculhando os textos sagrados até encontrar alguma frase genérica (ou descontextualizada) que sirva para sustentar seu ponto de vista. Sempre fico surpresa com o trabalho que essas pessoas têm para poder dizer: D´us deseja que os homens sejam cruéis e acabem com a vida das outras espécies.
Não quero prolongar o assunto, mas preciso fazer uma pergunta:
Não te soa estranho que a maior entidade de todas deseje algo tão injusto e violento, como a morte?
Além disso, é importante lembrar que para algumas religiões ser vegetariano é mais do que uma opção. O Budismo e o Movimento Hare Krishna são dois exemplos.

GREIF, Sergio. A Bíblia preconiza o vegetarianismo. Disponível em: <http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=1123&Itemid=40> Acesso em: 04/10/11

MUNIZ, Andre. Budismo e Vegetarianismo: a relevância da dieta alimentar nas escrituras sagradas do budismo. Disponível em: <http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com/2010/04/um-estudo-sobre-budismo-e.html> Acesso em: 04/10/2011

MONTEIRO, Guilherme. Krishna e o vegetarianismo. Disponível em: <http://www.ativeg.org/index.php?option=com_content&view=article&id=128:vegetarianismo-e-os-hare-krishna&catid=61:camile> Acesso em: 04/10/11

Saúde
Assim como no tópico anterior, gostaria de iniciar com uma afirmação: a Organização Mundial da Saúde recomenda a dieta vegetariana.
Antes de ler as informações que vem a seguir, peço gentilmente para pensar em tudo o que já ouviu de negativo em relação ao tópico. Por exemplo: vegetarianos sofrem com a falta de proteína. Em seguida, tente lembrar quem falou essas coisas. Se você lembrou a fonte e a considera confiável, conte-me por favor. Vou adorar ter uma conversa sobre isso. Mas caso você não se encaixe na primeira situação, abra a sua cabeça para aprender um pouco mais sobre o assunto.
Hipertensão, Diabetes, Obesidade, Osteoporose. Alista de doenças menos freqüentes em vegetarianos e veganos é um ótimo indício dos benefícios dessa dieta. Mas existe uma informação melhor ainda: as duas principais causas de morte do mundo (doença cardiovascular e câncer) podem ser prevenidas com uma dieta vegana.
Pirâmide Alimentar Vegana
SLYWITCH, Eric. Câncer. Disponível em: <http://www.alimentacaosemcarne.com.br/problemas-de-saude/hipotireoidismo> Acesso em: 04/10/11

ESSELSTYN, Caldwell. ´Só a dieta a base de vegetais reverte doenças cardíacas`, afirma médico: depoimento. [26 de Setembro, 2011]. São Paulo: Folha.com. Entrevista concedia a Débora Mismetti. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/980909-so-dieta-a-base-de-vegetais-reverte-doencas-cardiacas-afirma-medico.shtml> Acesso em: 04/10/11

Organização Mundial da Saúde. Promoting fruit and vegetable consumption around the world. Disponível em: <http://www.who.int/dietphysicalactivity/fruit/en/index2.html>  Acesso em: 04/10/11
 SLYWITCH, Eric. O vegetarianismo e a sua saúde. Disponível em: <http://www.svb.org.br/folhetos/OVegetarianismoeasuasaude.htm> Acesso em: 04/10/11

NORRIS, Jack. Vantagens de dietas vegetarianas. Disponível em: <http://www.mudaomundo.org/nutricao/vantagens> Acesso em: 04/10/11

Médicos americanos destacam a importância da alimentação natural para manter a saúde. Fortuna e Virtude, 24 de Fev. de 1999. Disponível em: <http://www.fortunaevirtude.com.br/fortuna_24_02/24_02.html> Acesso em: 04/10/11

Seja vegetariano pela sua saúde. Disponível em: <http://www.seja-vegetariano.org/index.php?option=com_content&task=view&id=31> Acesso em: 04/10/11

Compaixão
As pessoas que se tornam veganas por compaixão são aquelas que permaneceram conectadas com os animais não-humanos. Essas pessoas, assim como todos nós quando crianças, simpatizam naturalmente com os animais. São sensíveis às suas expressões. Reconhecem a tristeza ou alegria do animal. Quando alguém assim descobre a forma como os animais para consumo humano são tratados, um choque acontece. Percebem que a realidade não corresponde com o que desejam. A ilusão do respeito e cuidado com outro acaba. E dá lugar a uma rejeição pela violência, abuso e crueldade que estão acontecendo. Nesse momento de tristeza, podem acontecer duas coisas: o indivíduo se conforma com a realidade, ou ele reflete um pouco sobre ela. No momento que alguém vivencia a segunda opção, a origem do alimento passa ser uma informação crucial. As pessoas que se tornam veganas nesse momento são aquelas que não se sentem bem com um cadáver em seu prato. E assim, emocionalmente, elas param de financiar a mais consolidada indústria de morte.



 




Como já disse, não falarei sobre a ética nesse momento. Mas estou indicando 2 excelentes documentários sobre o tema.

Terráqueos
http://terraqueos.org/

A Carne é Fraca
http://www.youtube.com/watch?v=IKIBmppiIvM



¹ Disponível em: < http://www.vegansociety.com/about/history.aspx> Acesso em: 30/09/2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Permacultura - Origem e Ética

A Permacultura foi criada pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren nos anos 70. Seu principal objetivo, declarou Holmgren, é a criação de “paisagens conscientemente desenhadas que reproduzem padrões e relações encontradas na natureza e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos, fibras e energia em abundância e suficientes para prover as necessidades locais”¹. Ela é um método de se planejar espaços totalmente sustentáveis, que visa à criação de uma cultura que seja sustentável e permanente. As áreas chaves para a criação dessa cultura foram mostradas através da “Flor do Sistema de Design”(imagem 1). Mais conhecida como a flor da permacultura, ela apresenta 7 campos (7 pétalas) em que a permacultura age. Em cada uma das pétalas são especificadas algumas ações de grande importância. A elaboração da flor foi baseada em uma série de princípios éticos. Esses princípios estão no centro da flor. Dessa forma, me permito dizer que a ética da permacultura é como o seu âmago.
Imagem 1

Imagem 2

Bill Mollison resumiu essa ética em 3 valores (imagem 2): cuidar da terra, cuidar das pessoas, e partilha justa (limites ao consumo). 
- Cuidar da Terra
“O ícone da planta jovem representa o crescimento orgânico, um ingrediente-chave na manutenção da vida na Terra. Cuidar da Terra pode ser entendida como cuidar do solo vivo. O estado do solo é freqüentemente a melhor medida para a saúde e o bem-estar da sociedade. Há muitas técnicas diferentes para se cuidar do solo, mas o melhor método para saber se o solo está saudável é ver quanta vida existe lá. Nossa florestas e rios são os pulmões e veias do nosso planeta, que ajudam a Terra a viver e respirar, proporcionando diversas formas de vida. Todas as formas de vida têm o seu próprio valor intrínseco, e precisam ser respeitados pelas funções que elas executam - mesmo se não as vemos tão úteis às nossas necessidades”². Em outras palavras, esse princípio presume a manutenção dos ecossistemas, e o respeito por todo e qualquer elemento terrestre.
- Cuidar das Pessoas
“O ícone das duas pessoas juntas representa a necessidade de companheirismo e trabalho colaborativo para proporcionar mudanças
. O cuidado com as pessoas começa com nós mesmos, mas se expande para incluir as nossas famílias, vizinhos e comunidades locais e mais amplas”². Esse princípio está intimamente ligado com o primeiro, uma vez que temos que cuidar da terra para cuidarmos de nós mesmo, e assim cuidarmos dos outros. O “outro” é encarado positivamente, sendo uma potencial solução e não um problema. Dessa forma, todos os animais humanos merecem respeito, saúde, alimentação, abrigo, educação, e trabalho.
-Partilha Justa
“O ícone da torta e uma fatia dela representa a tomada do que precisamos e a partilha do que nós não necessitamos, reconhecendo que há limites para o quanto podemos dar e o quanto podemos tomar”²
. Temos que olhar para o atual padrão de vida, para o consumismo desenfreado, para as espécies que estamos aniquilando, e perceber que desse jeito e nessa velocidade não há um futuro próspero para a humanidade. A sociedade pode mudar esse cenário. Mas, como disse Bill Mollison, “isso requer repensar os valores, um replanejamento dos nossos hábitos e uma redefinição dos conceitos de qualidade de vida”³.


 Com os princípios esclarecidos, partimos para o estudo do funcionamento dos sistemas permaculturais. 

Uma das mais importantes características dos sistemas de permacultura é que nenhum deles é igual. Se olharmos para duas casas de permacultura numa mesma cidade, com duas famílias muito parecidas (educação, religião, entre outras coisas), perceberemos que as diferenças são mais que notáveis. Cada caso é realizado segundo suas próprias e únicas condições, sejam elas culturais ou territoriais. Mas existem sempre algumas semelhanças fundamentais:

- Respeito pela natureza: expresso ao cuidá-la, estudá-la, e preservá-la.
- Reciclagem da energia do sistema: inclusive a humana.
- Problemas são encarados como solução: a comida não gera lixo, e sim matéria prima para produzir adubo para a horta.
- Todos os elementos estão conectados para que exista apoio mútuo: a casa disponibiliza materiais para produção artística (lixo). Os produtos podem retornar para a casa ou serem trocados (vendidos) por comida. Esse alimento proporciona energia para a produção. E assim por diante.
- Toda função é suportada por pelo menos dois elementos: tem água do rio, da chuva, ou de um poço, por exemplo.
- Todo elemento tem mais de uma função: a bananeira digere materiais e protege o solo, as suas folhas podem servir de adubo, e seus frutos são alimento.

Sem dúvida há mais algumas características comuns dos sistemas permaculturais para relatar. Mas acabei de tocar em um item que exige mais atenção.
Quando estava fazendo a formação em permacultura (PDC- Curso de Design em Permacultura) vivenciei uma situação no mínimo curiosa. No momento em que aprendíamos sobre o último ícone da lista, o elemento usado como exemplo foi a galinha. Suas funções estavam sendo listadas. Ao ciscar ela limpa o chão. Ao andar ela areja a terra. Ao defecar ela serve para produzir matéria orgânica. E ela produz alimento através da sua carne e de seus ovos. Muito perturbada com a situação, arrisquei dizer: “ela também SERVE como companhia”. Depois das risadas, todos concordaram comigo. Afinal, os permacultores respeitam a todos.

Como podemos ter uma ética que respeita a natureza (incluindo todas as espécies de animais), se ao executá-la não respeitamos o direito de um animal viver para não nos servir?
Poderiam me dizer que se levássemos essa minha idéia a fundo, a solução seria o isolamento do animal humano. Afinal, quando a galinha está cagando e andando ela já está nos servindo de alguma coisa.
Não tenho dúvida que ela realmente trás benefícios ao fazer isso. Mas acontece que ela não foi parar naquele lugar ao acaso. Pelo menos não é assim que vejo acontecer. Não prego pelo isolamento dos homens. Desejo uma convivência pacífica entre toda a natureza, uma relação de igualdade entre todos os terrestres.
O que digo não é inviável. E para minha felicidade, essa idéia “maluca” de entender que todas as formas de vida têm o seu próprio valor intrínseco é justamente o que a ética da permacultura estabelece.




¹ HOLMGREN, David. Permacultura Um: um sistema de agricultura perene para assentamentos humanos. Tagari Publications. 130p.

² Disponível em: <http://permacultureprinciples.com> Acesso em: 30/09/2011
³ MOLLISON, Bill. Permaculture: a designers´ manual. Tagari Publications. 576p.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Como tudo começou...



Há 5 anos atrás esbarrei com um vídeo amador gravado em uma favela. Ele mostrava a aplicação e resultado de um sistema integrado que ao tratar o esgoto de alguns “barracos” produzia biogás para as famílias carentes. E assim tive o primeiro contato com uma das coisas mais interessantes que conheci nessa vida.
Na época, eu não sabia nada sobre a origem, o nome, e sobre a complexidade do tema. Mas tinha a certeza que o que via era uma fantástica descoberta, e uma potencial solução para alguns problemas da caótica São Paulo.

1 ano após o episódio eu tive a honra de conhecer o meu mais excêntrico professor de física. Um judeu com uma mente inquieta e com muito conhecimento. Sua mente era imaginativa, e seu coração esbanjava bondade. Ao seu lado, descobri a “arquitetura inteligente”: construções que economizam, reaproveitam e criam os próprios recursos (edifícios independentes). Devido as nossas conversas, senti a certeza da profissão que desejava seguir.

No final desse ano, também vivenciei uma crucial conversa para a minha vida. Em uma noite qualquer, jantando com um amigo que compartilhava o gosto por polêmicas, o acaso nos introduziu ao universo da alimentação vegetariana. Como de costume, escolhemos lados opostos para dar início ao debate. Eu, inexplicável simpatizante, optei pela defesa. O diálogo se desenvolveu até beirar o absurdo. E assim, reconhecemos que nossas palavras agiam como facas cegas, que insistíamos numa discussão em que nenhuma das partes entendia do assunto. Dessa forma, acordamos de pesquisar sobre o tema antes de dar continuidade ao hobbie. Inquieta, fui atrás de informações na mesma noite. Almejando a irreal vitória, pesquisei sobre os dois lados da moeda. Queria ter boas respostas para todas as abordagens possíveis. E foi no meio dessa incansável busca que me dei conta que o que descobria ia muito além daquela brincadeira. A veracidade e a força do que aprendia me atingiam profundamente. Sem querer, eu havia plantado uma semente em meu próprio corpo. E após 1 mês (10 de Janeiro de 2008), me encantei com uma vigorosa e estabelecida consciência.

Iniciei o ano bem, e, sem grandes esforços, o primeiro semestre de 2008 foi marcado como uma época de muito estudo e pesquisa sobre nutrição, culinária, direitos animais, e arquitetura sustentável. Em pouco tempo, compreendi a ética vegana o suficiente para tentar mudar alguns outros hábitos. Pela primeira vez na minha vida, agradeci por ter nascido com uma séria alergia a leite. E então, o dia 10 de Junho de 2008 foi registrado como o início da minha vida vegana.
Nesse ano de novidades e ansiedades, também iniciei um curso técnico em meio ambiente (além do colegial e cursinho). Mas acabei desistindo em poucos meses (por uma razão bem difícil de deduzir). O tempo que estive lá foi ótimo para me inspirar muito na minha pesquisa por formas sustentáveis de viver. E também foi o suficiente para eu enfim conhecer um permacultor. Uma vez apresentada a permacultura, nunca mais consegui esquecê-la.
Durante algum tempo (mais do que eu gostaria), meu estudo sobre a “cultura permanente” se limitava à internet. Mas depois, com bastante teoria acumulada e guardada, me lancei às vivências permaculturais.

Em 2010, durante um voluntariado em uma casa de permacultura, ouvi uma frase que nunca pude esquecer: “Essa coisa de veganismo só é possível na cidade”. A opinião da pessoa era que o veganismo era uma espécie de febre urbana, que só faz sentido para quem vive num local “sem animais e sem natureza”. Isso me causou um grande impacto. Mas para minha surpresa, a afirmação não vinha somente desse lado. Acho que eu não saberia dizer a quantidade de vezes que ouvi a seguinte frase: “a permacultura só é viável pro campo”. Esse argumento é sustentando por diferentes profissinais, amigos ou conhecidos. Mas se tem uma coisa em comum é a razão da afirmação: a permacultura não faz sentido para quem vive na cidade.
Bom, esse assunto me levou a longas reflexões. Eu discordo de ambas afirmações. Mais que isso: eu enxergo uma profunda conexão entre os temas. E esse é o ponto em que tentarei chegar nesse blog.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Para começar bem...

‎"Muita gente pequena, em muitos lugares pequenos, fazendo coisas pequenas, mudarão a face da terra." (Provérbio Africano)